Falta clareza e objetividade nos programas de descarbonização, avalia Davi Bertoncello

A transição energética obriga cada vez mais gestores dos setores público e privado a construírem juntos novas estratégias que sejam economicamente sustentáveis. A criação de metas para a descarbonização e a negociação de subsídios para impulsionar projetos com fontes renováveis são caminhos que dependem de transparência e assertividade de ambos os lados.

O projeto Combustível do Futuro, apresentado pelo governo federal ao Congresso, é formado por uma série de iniciativas para incentivar a mobilidade sustentável de baixo carbono. Enquanto o texto aguarda análise e votação dos parlamentares, Davi Bertoncello, CEO da startup Tupinambá Mobilidade Elétrica, pontua que, “no âmbito estadual, veículos elétricos podem por vezes pagar mais IPVA que uma picape Diesel, como infelizmente observamos no Estado de São Paulo.”

Na avaliação do executivo da empresa focada em soluções inteligentes de carregamento para veículos elétricos – que tem um aporte de R$ 10 milhões da Raízen – falta clareza e objetividade na comunicação e nos programas federais de descarbonização. Leia a entrevista na íntegra:

Quais os desafios para que a quantidade de pontos públicos de recarga comporte a quantidade de carros elétricos no país?

O investimento em infraestrutura de recarga é significativo e financeiramente oneroso. A plataforma Tupinambá oferece indicadores valiosos para a tomada de decisão de onde e como investir em recarga, nos concentramos na inteligência de mercado. O cenário internacional se prova bastante diferente do nacional e este aprendizado não se aplica ao cenário latino americano. Centros urbanos brasileiros demonstram potencial para recarga rápida, diferente do que se observa em outros territórios, enquanto o rodoviário ainda oferece alguma ociosidade. Hoje temos mapas de calor que nos permitem ser totalmente assertivos quanto à expansão das redes.

Qual a sua avaliação sobre o programa do governo federal “Combustível para o Futuro”?

Enxergamos uma falta de clareza e objetividade na comunicação e nos programas federais de descarbonização. Observamos uma negativa e acelerada retirada dos benefícios aos veículos zero-emissão em favor de soluções paliativas e já ultrapassadas no exterior. Não contamos com linhas de crédito e incentivos claros e objetivos para os diferentes modais elétricos. No âmbito estadual, veículos elétricos podem por vezes pagar mais IPVA que uma picape Diesel, como infelizmente observamos no Estado de São Paulo.

Hoje chegamos a 92% de capacidade de geração proveniente das renováveis. Nossa energia elétrica é muito limpa e adequada à mobilidade elétrica. O Estado de São Paulo conta hoje com mais de 26% de sua geração de energia elétrica proveniente da biomassa da cana de açúcar.

Neste cenário, o carro elétrico contribui significativamente com a bioenergia, motivo pelo qual não se compreende a retirada dos benefícios aos eléctricos frente a sua significância inclusive no cenário dos biocombustíveis, lugar onde o carro elétrico é complementar aos movidos por biocombustíveis.

Existem conversas entre a start up e representantes do poder público? Quais os temas tratados?

A Tupinambá através da ABVE, a Associação Brasileira do Veículo Elétrico, é atuante em uma série de iniciativas junto à associação e ao poder público. Defendemos desde aspectos metrológicos e normativos até os incentivos para a descarbonização da frota e incentivos aos elétricos.

Qual a importância em fazer parte da Aliança pela Mobilidade Sustentável?

Estamos diante de evidentes indicadores de declínio da qualidade de vida frente aos recentes acontecimentos climáticos. Estamos em uma região privilegiada para a mobilidade elétrica, com clima favorável e energia limpa e renovável. Nossa tecnologia é madura e hoje contamos com veículos finalmente acessíveis. A Tupinambá se coloca neste ecossistema como um hub, reunindo motoristas, energia, empreendimentos, transações financeiras e indicadores de performance. Tudo em uma única plataforma digital. Para a Tupinambá, todas as iniciativas de sustentabilidade devem ser consideradas e apoiadas de forma impetuosa.

Atualmente, as fontes de energia renováveis são insuficientes para abastecer as necessidades globais de consumo. Como mudar esse cenário?

Hoje as fontes de energia renováveis já são suficientes para atender a demanda de toda e eventual mobilidade elétrica. Segundo a ABSOLAR, observamos um crescimento 4 vezes maior somente na energia solar que o consumo médio de toda a frota de veículos elétricos, considerando também seu acelerado crescimento e seu futuro. O Brasil está em um momento de sobre oferta de energia elétrica. Grande parte dos vertedouros das hidroelétricas estão abertos e as energias solar e eólica continuam crescendo a passos largos. Temos uma tendência de continuidade da sobre oferta de energia elétrica.

 Como a empresa contribui na experiência do consumidor que opta por um veículo elétrico?

Somos uma empresa de software que tem como objetivo entregar uma sofisticada plataforma de gestão de estações de recarga, tanto para o motorista quanto para administradores de redes de recarga, gestores de frota e condomínios.

Nossa solução tem como objetivo remover todos os comuns pontos de fricção das demais soluções de recarga. No App Tupinambá Energia, o cadastro do usuário utiliza as seguras e robustas credenciais de autenticação das plataformas Apple e Google, reduzindo desta forma o tempo de cadastro de uma dezena de minutos e complexas verificações, para poucos segundos no App Tupinambá.

Também prezamos pela qualidade do serviço oferecido pelas estações de recarga. Através da nossa plataforma, monitoramos as estações de recarga ininterruptamente, antecipando eventuais falhas e corrigindo sua operação sem a interação dos nossos usuários e parceiros.  Colhemos regularmente a avaliação dos usuários, o Net Promoter Score (NPS) e oferecemos suporte todos os dias da semana, 24 horas por dia.  Nosso App hoje detém hoje a melhor avaliação nas App Stores.

Quantos pontos de recarga da Tupinambá existem no país? Qual a divisão de unidades por Estados?

Hoje listamos 3 mil pontos de recarga na América Latina e gerenciamos mais de 600 estações de recarga em diversos países do continente. O Sul, o Sudeste e o Centro-oeste brasileiro concentram a maior frota de elétricos e também a maior quantidade de estações que administramos. Observamos um acelerado crescimento na oferta de recarga com a evolução dos eletrificados, agora caindo na preferência dos consumidores.

Quais são os resultados das ações da Tupinambá no processo de descarbonização do setor automotivo?

Nossa plataforma permite apurar em tempo real toda energia fornecida para as nossas redes de recarga, frotas e condomínios com a devida atenção à emissão de carbono. Hoje estamos próximos de atingir o marco de 1.500 toneladas de CO2 não lançado na atmosfera, ou aproximadamente 10 milhões de km rodados sem o consumo de combustíveis e sem as emissões de gases geradores do efeito estufa. Optamos sempre por energia renovável e com certificados i-REC. Em cooperação com a Raízen, operamos estações de recarga alimentadas com biometano, um gás que outrora seria lançado em natura na atmosfera com grande prejuízo para o aquecimento global.

Qual a projeção de novas instalações para o próximo ano? Qual região do país deve ser priorizada pela startup?

Devemos superar as entregas que realizamos em 2023, que em relação a 2022, entregamos em 2023 um crescimento de 300%.

O mercado ainda está em fase de aprendizado, ainda bastante incipiente. Há muito o que aportar quanto a robustez das redes de recarga. Neste cenário, a plataforma Tupinambá se destaca e foi rapidamente reconhecida e adotada por grandes stakeholders internacionais para suas operações na América Latina. Pouco tempo após a gênese da plataforma Tupinambá, grupos como Raízen e Shell, assim como Renault e Stellantis escolheram nosso software para a expansão de suas operações.

Estamos estrategicamente preparados para projetos de grande porte em um cenário multinacional, com potencial de crescimento além do continente da América Latina.

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