A perspectiva de aumento dos preços de energia, a renovação das concessões de distribuidoras e as taxas de juros em queda estão deixando o setor mais atrativo ao olhar dos estrangeiros, o que pode desencadear uma nova leva de investimentos para o setor. Esse interesse se mostra crescente mesmo aos ajustes regulatórios que estão em andamento no país.
Um desses indicativos de maior interesse de estrangeiros é do Itaú BBA, que realizou no mês passado uma série de encontros na Europa para falar sobre o setor de utilities, que inclui as empresas de energia.
“Encontramos maior interesse nas concessionárias brasileiras do que o normal, refletindo a atratividade do setor”, segundo Marcelo Sá, analista da instituição.
Esse maior interesse é, segundo ele, justificado pelas perspectivas para os preços de energia e a tendência de redução da taxa Selic, que ajuda projetos a saírem do papel. Há um ano, o juro básico estava em 13,75% ao ano e atualmente está em 11,25%. Para o final do ano, a previsão é a de que esteja mais perto de 9%.
“Muitos investidores desconheciam a magnitude da recente melhoria nas perspectivas dos preços de energia. Essa grande mudança foi impulsionada por condições hidrológicas muito fracas e forte demanda por energia”, explicou, mas acrescentou que ainda há um ceticismo sobre o quão sustentável é esse movimento
Os contratos de energia já apontam para preços mais elevados em 2025 e 2027. Se a próxima temporada de chuvas no Sul e Sudeste for fraca como a última, a expectativa é a de que essa tendência se solidifique.
Outro fator que tem aumentado o interesse de estrangeiros no setor de energia do Brasil é a renovação das concessões de distribuidoras de energia, que devem ter as regras definidas até o próximo mês. A depender do que for desenhado pelos órgãos reguladores, essa rodada de renovações pode atrair investidores, ou seja, dinheiro novo, para as empresas que já atuam em áreas concedidas. Também há a possibilidade da troca de mãos dessas concessões – o caso mais esperado é o da Enel, que atua na região metropolitana de São Paulo.
“Esse processo de renovação das concessões gerou preocupação, mas agora se parece acreditar que o resultado final será positivo. Na nossa opinião, as concessões serão renovadas em condições favoráveis”, disse.
Open energy
Esse maior interesse de estrangeiros ocorre no momento em que uma série de ajustes são feitos na regulação do setor. Além da expectativa em relação aos dados da renovação das concessões, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) deu início a segunda fase da consulta pública relacionada à regulamentação da comercialização de energia no varejo.
Essa segunda etapa, que vai até 7 de junho, será dedicada aos procedimentos e regras encaminhados pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) à autarquia. De acordo com as áreas técnicas da Aneel, a CCEE enviou a revisão contemplando as mudanças trazidas pela possibilidade de entrada de novos grupos de consumidores no mercado livre de energia. Dos 19 dispositivos apresentados pela CCEE, apenas três foram interpretados pela agência como passíveis de ajustes, a serem estudados durante a consulta pública.
As alterações propostas pela Agência se referem à gestão e à configuração do sistema de registro e controle do varejo, visando permitir amplo acesso dos consumidores às informações do mercado. Com os aprimoramentos em estudo, as áreas técnicas da Aneel avaliam que o sistema será o embrião do chamado “open energy”, a digitalização do setor de energia no Brasil.
Os ajustes na regulação precisam de fato refletir o avanço das novas tecnologias, que permitem a digitalização e maior transparência do setor, e o direcionamento para a transição energética da economia do país. É importante que isso seja feito de maneira coordenada e clara, para que os investidores estrangeiros se sintam confortáveis em participar dessa empreitada.