COP 2028: Brasil sai com imagem arranhada

O Brasil iniciou a COP 28 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), em Dubai, com todas as credenciais para ser um dos destaques da edição, se colocando como um país preocupado com a questão ambiental e pronto para liderar a transição energética. O resultado final, no entanto, ficou um pouco distante do planejado – sem contar os arranhões na imagem.

A frustração com a participação do Brasil foi tão grande que rendeu ao país um “anti-prêmio”, que é o “Fóssil do Dia”, dado pela rede Climate Action Network (CAN), como uma crítica à decisão do Brasil de aceitar o convite para participar do grupo conhecido como Opep+ (Organização dos Países Produtores de Petróleo Plus).

O “prêmio” chegou, inclusive, antes do final da COP 28, que vai até o dia 12 de dezembro.

A crítica da ONG tem seus fundamentos. O Brasil mostrou uma imagem para dizer, no mínimo, contraditória, mas que também reflete os desafios para uma transição energética.

Uma das principais conquistas do governo Lula é a redução significativa de quase 22,3% no desmatamento da Amazônia durante o primeiro ano de seu atual mandato. Essa é a maior queda em uma década e deve – e precisa – ser comemorada, já que esse é um dos mecanismos para se combater o aquecimento global.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ainda aproveitaram a COP para anunciar a criação do FFTS (Fundo Floresta Tropical para Sempre), em que os recursos levantados irão ajudar na conservação de florestas em diferentes países, levando em conta as particularidades de cada um deles.

Também foram apresentadas iniciativas das esferas estaduais. O governador do Amazonas, Wilson Lima, apresentou o projeto “Amazonas 2030”, que quer reduzir o desmatamento na região e arrecadar R$ 1 bilhão com a venda de créditos de carbono já em 2024.

Os anúncios positivos, no entanto, foram ofuscados pela entrada no Brasil no grupo de convidados da Opep, que reúne os maiores produtores de petróleo. A razão é simples. É preciso que o uso de combustíveis fósseis caia para que as metas do Acordo de Paris sejam atingidas e se evite um aquecimento ainda maior do planeta – e as consequências climáticas associadas a isso.

Para o governo Lula, participar do grupo não é uma contradição, já que o objetivo é ouvir e estimular esses países a pensarem em alternativas.

“A nossa participação na Opep+ é para discutir com a Opep a necessidade de os países que têm petróleo e que são ricos começarem a investir um pouco do seu dinheiro para ajudar os países pobres do continente africano, da América Latina, da Ásia a investirem em combustíveis renováveis, especialmente o H2V”, disse o presidente durante sua participação na COP 28.

Esse é o retrato das contradições da transição energética, em que é necessário encontrar o equilíbrio entre o ainda necessário uso dos combustíveis fósseis – que para países como o Brasil são um produto importante na pauta de exportações – e o investimento em opções mais limpas.

Essa contradição também existe nas empresas. A Braskem, por exemplo, precisou cancelar a sua participação na COP 28 em meio ao quase colapso de uma mina da petroquímica em Maceió (AL), que colocou a capital alagoana em alerta. Assim como o governo, o setor corporativo também precisa se mostrar comprometido com a redução dos danos ao meio ambiente, ou os relatórios de sustentabilidade divulgados ano a ano servirão apenas para um “greenwashing”.

Esses temas terão de ser endereçados no curto prazo, lembrando que o Brasil vai sediar a próxima COP, em 2025. O tempo é curto, mas governo, empresas e sociedade civil ainda podem acertar o passo para que esse encontro aconteça sem arranhões à imagem do país. Afinal, os ambientalistas já deram o recado do que temem encontrar. “Brasil, não queremos um passeio pelos campos de petróleo quando estivermos em Belém em 2025. E, se você quiser apenas ingressar em um clube, sugerimos que siga seu vizinho, a Colômbia, inscrevendo-se no Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis em vez de Opep+”, afirmou, em nota, a CAN.

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