A Auren (AURE3) anunciou a compra da AES Brasil (AESB3) em um negócio que irá resultar na maior terceira geradora de energia do país, com uma potência instalada de 8,8 gigawatts (GW). A combinação das duas empresas ainda resultará em uma Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 3,5 bilhões.
Pelo negócio anunciado, a AES será convertida em uma subsidiária integral da Auren, com unificação da base acionária. O preço fixado para cada ação da AESB3 é de R$ 11,55, o que representa um prêmio de quase 20%.
Arlindo Souza, analista da Levante Inside, fala dos efeitos do negócio para as ações das duas empresas e também da forte elevação do endividamento da Auren no curto prazo. Confira a entrevista.
O que representa uma fusão como da Auren e AES Brasil para o setor de energia?
No macro, temos um setor de geração de energia que ficou bem desafiador de dois anos para cá devido a um ciclo hidrológico muito bom que o Brasil teve. Isso causou uma queda acentuada dos preços de energia. Ficou complicado para as empresas fazerem novos investimentos e vender essa energia a preço atrativo de forma a justificar uma expansão, como investimentos em energia solar e eólica. Esse cenário limitou muito o espaço da AES. Foi uma empresa que se alavancou muito no ciclo de investimento e, na virada desse ciclo, quando ia começar a gerar caixa, os preços de energia atrapalharam essa desalavancagem. Do outro lado, a Auren, após a incorporação da Votorantim, estava com folga financeira. Foi uma consolidação gerada pelos baixos preços de energia.
Além da geração, a empresa pode ser relevante em mais algum segmento do setor de energia?
No segmento de comercialização, sim. Nesse segmento, a Auren já era bem relevante. Eles operam bem isso. Com a base de clientes da AES, isso tende a ser reforçado. Os segmentos de geração e comercialização são irmãos. Já em distribuição e transmissão, acho que não vai acontecer no curto e médio prazo. A Auren tinha interesse em transmissão, mas a concorrência era muito grande e acabou por não fazer. Entrar na distribuição também é difícil.
Quais sinergias esse negócio pode render? São mais sinergias do lado da despesa ou da receita?
São duas empresas bem parecidas em tamanho e natureza dos ativos, com eólica, solar e geração hídrica. Por ter atividade muito semelhante, é um dois mais dois que a soma dá 4,5. Nessa consolidação, pode ter economia em PSO (pessoal, material, serviços de terceiros e outros). Na Auren, a CESP tem crédito fiscal bem grande e a geração de resultados vai ajudar a abater esses créditos. Vejo mais sinergia do lado da despesa. Na receita, vai ser marginal e só quando os preços de energia melhorarem.
Qual impacto da fusão para as ações no médio e longo prazo? A AES Brasil deve seguir se beneficiando mais da operação?
Na nossa visão, a ação da AES deveria negociar próximo aos R$ 11,55 da oferta da auren, considerando que o acionista queira toda a participação paga em espécie. Acreditamos nesse preço. Já o impacto nas ações da Auren, em uma primeira análise, vemos o múltiplo pago na transação de quase oito vezes o Ebitda da AES. O múltiplo da Auren está em 6,8 vezes. Isso se reflete no preço da ação. Mostra que foi um deal um pouco caro. Nosso preço justo para a AES seria entre R$ 9 e R$ 10. A Auren pagou um prêmio relevante.
Ainda vale a pena comprar ações dessas empresas ou é melhor esperar?
Comprar ação da AES não vale. Ela já está sendo negociada perto de R$ 11,55. Já no caso da Auren, estamos com recomendação de revisão.
É esperado aumento de endividamento da Auren para custear a fusão?
Vai ser um aumento relevante. O balanço da Auren mostra uma relação entre dívida líquida e Ebitda de 1,5 vez. Com o fechamento do deal, a alavancagem deve subir para quase 5 vezes, levando em consideração a consolidação da dívida e do Ebtida da AES. Mas a gente vê uma trajetória de redução do endividamento. Ao final de 2026, essa alavancagem deve cair para 3,5 vezes, o que é razoável para uma empresa do setor.
Quais os próximos passos dessa fusão? Tem algum risco de Cade ou Aneel vetarem a operação ou colocar muitas restrições?
É preciso uma atualização societária e alguns passos regulatórios do Cade e Aneel. Por se tratar de um setor regulado, a gente não vê grandes problemas de concentração. Não vemos muitos empecilhos regulatórios.