Alta no preço do petróleo pode acelerar transição energética

O conflito entre Israel e o grupo militar palestino Hamas fez o petróleo disparar, revertendo a tendência de queda da commodity. A trajetória do preço passa a depender de uma eventual intensificação e abrangência dessa guerra. Além dos impactos na inflação, caso a escalada ganhe força, há ainda os efeitos sobre a transição energética em um cenário de custo maior dos combustíveis fósseis.

A reação imediata ao conflito, deflagrado no sábado, foi o aumento de 4,2% no barril do tipo Brent, que chegou a US$ 84,58. As cotações estavam em queda desde o final de setembro, quando o barril superou os US$ 94, o maior patamar desde outubro 2022. A reversão nos pregões anteriores ao ataque do Hamas foi causada por uma previsão de demanda menor devido aos juros mais altos nos Estados Unidos (o que tem o efeito de restringir o consumo).

Na avaliação de Alan Martins, analista da Nova Futura Investimentos, a alta causada pela guerra está relacionada às incertezas sobre os próximos passos da Opep (Organização dos Países Produtores de Petróleo). A decisão do grupo, tomada anteriormente ao conflito, foi de restringir a oferta até o final do ano. “A preocupação é se o corte feito pela Arábia Saudita irá durar até o final do ano ou se vai continuar. (…) Se essa posição (redução da produção) for mantida, pode ter uma corrida pela commodity“, diz.

A preocupação é que outros países, como o Irã (integrante da Opep), entrem na guerra, o que poderia levar a uma restrição na oferta do petróleo, elevando mais uma vez os preços.

Inflação e transição energética
A consequência mais imediata do ponto de vista macroeconômico seria uma pressão inflacionária – e com preços em alta, os bancos centrais podem intensificar a alta dos juros.

“A nossa perspectiva é que o mercado de petróleo, caso ocorra a participação do Irã, registre preços mais elevados. Isso seria um impacto relevante”, disse Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama.

Para amenizar essa preocupação, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou, nesta segunda-feira (9), que a estatal trabalharia para manter os preços dos combustíveis no Brasil. “Isso vai mostrar como está dando certo a política atual de preços da Petrobras, ela deve mitigar esses efeitos.”

Já para o médio e longo prazo, esse conflito pode contribuir para a aceleração da transição energética, uma vez que os combustíveis fósseis perdem competitividade com o aumento do preço do petróleo.

Para Demetrios Papathanasiou, diretor de energia do Banco Mundial, a dependência dos combustíveis fósseis causa um ciclo vicioso de custos, uma vez que a maior demanda eleva os preços de energia para os consumidores, além de causar maiores emissões de gases. “Em contraste, a transição para energias renováveis ​​pode desbloquear um ciclo virtuoso que produz eletricidade a custos mais baixos para os consumidores, cria resiliência e ajuda a mitigar as alterações climáticas”, diz.

O Brasil tem todas as condições de acelerar a transição energética, com ou sem a continuidade dessa guerra. O país já conta com uma matriz energética mais limpa que a média mundial. Quanto mais rápido for esse processo, menos dependente a economia ficará da oscilação dos preços globais do petróleo. Além disso, há outros benefícios. Ao se colocar como um país avançado na descarbonização, o Brasil pode atrair novas oportunidades de negócios, o que irá contribuir para a geração de empregos e desenvolvimento econômico.

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