A decisão de investimentos deve cada vez mais levar em conta a chamada pauta ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança) e isso inclui as ações negociadas em Bolsa de Valores. Ao utilizar esse filtro para a decisão de alocação, o investidor passará a procurar ativos de empresas que possuam soluções sustentáveis e as do setor de energia se enquadram nesse quesito.
Segundo Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante Investimentos, a escolha dos investimentos quando se utiliza os princípios da sustentabilidade deve ser feita de forma alinhada com os fundamentos da empresa, ou seja, ela precisa ter também perspectiva de crescimento de lucro sustentável.
“Sendo uma combinação de dois fatores (retorno e princípio da sustentabilidade) é fundamental olhar se de fato as empresas ditas sustentáveis atendem aos quesitos do investidor e se isso será capaz de dar retorno no longo prazo”, diz Cozzolino.
Um dos caminhos mais fáceis para quem quer ter uma carteira de investimentos mais sustentáveis é avaliar as ações que fazem parte do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da B3. São 67 ações de diferentes setores. No entanto, Cozzolino alerta que os papéis do índice não necessariamente serão os mais sustentáveis.
“O ISE já é um começo, porém vale lembrar que é um índice de sustentabilidade empresarial, não necessariamente um índice ESG. O índice também não inclui BDR (recibos de ações emitidos no exterior), o que implicaria uma composição mais diversificada e melhor”, avalia.
De fato, investir nas empresas do ISE não é uma garantia de investimento lucrativo e preocupado com sustentabilidade. O exemplo mais recente é a Braskem, em que a exploração de sal-gema pela empresa causou danos a bairros inteiros de Maceió (AL), com o afundamento do solo. E já houve, até, rompimento pontual da mina.
As ações da Braskem faziam parte do índice e só foram retiradas do índice no início de dezembro.
Dos papéis do ISE, a BRF é a que possui o maior peso, 3,45% do total. É também uma das ações com melhor desempenho ao longo do ano, com alta de 73%. Também tem uma participação relevante a Vivo, com 3,1% no índice e ganhos de 45,4% no acumulado de 2023.
A título de comparação, o Ibovespa, que é o principal índice da B3, sobe 19,3% no mesmo período.
Das ações com maior peso no ISE, há duas do setor de energia: Copel e Engie, com valorizações de, respectivamente, 24,7% e 14,4%.
Para o especialista da Levante, as empresas do setor, mesmo as que não estão no ISE, são uma opção para quem busca fazer uma carteira com investimentos sustentáveis e, ao mesmo tempo, quer retorno, mas a longo prazo.
“Teremos uma mudança da matriz energética. Contudo, no curto prazo, estamos falando de maiores custos, com mais gastos e investimentos até que esse ‘valor verde’ seja percebido e compensado no longo prazo. É necessário cautela”, avalia Cozzolino, acrescentando que no momento não é interessante uma carteira apenas com ações do ISE.
Já para Paulo Martins, CEO da empresa de análise Anova, as empresas de energia, além da questão da sustentabilidade, tem um caráter defensivo, por terem uma receita mais previsível e menor volatilidade, o que pode ser uma oportunidade.
“Consideramos que está havendo um notável interesse em ações de setores defensivos como energia e saneamento. Papéis como Sanepar, Sabesp, Taesa, Energisa e Copasa devem apresentar fortes valorizações e estão em um excelente ponto de compra para os próximos meses, oferecendo uma oportunidade principalmente para investidores que buscam empresas sólidas e de menor volatilidade”, avaliou.
Se a transição energética e a busca por opções de produção mais sustentáveis são uma realidade, é natural o investidor ter isso em mente na hora de fazer a alocação de seus recursos. No entanto, é preciso ficar atento e diferenciar as empresas que estão de fato empenhadas nessa mudança daquelas que apenas praticam o “greenwashing”.
