Mariana Brasil

O toma lá dá cá da política

A expectativa em Brasília é a de que o presidente Lula anuncie mais mudanças em ministérios em algum momento, nos próximos meses. Com isso, o Centrão entra com mais peso no governo.

O Centrão é a composição de legendas de centro-direita que costumam apoiar governos de diferentes vertentes ideológicas, em troca de influência política, cargos e verbas, possibilitando investimentos em redutos eleitorais.

Alguns ministros já foram indicados. O PP do presidente da Câmara, Arthur Lira, emplacou André Fufuca (MA), na pasta dos Esportes. E o Republicanos indicou Silvio Costa Filho (PE) para o Ministério de Portos e Aeroportos. Ambos receberam o apoio de Lira.

Ao fim e ao cabo, as trocas tendem a não deixar ambos os lados totalmente satisfeitos. Lula não deverá ter apoio integral e o Centrão poderá continuar tendo as suas demandas junto ao governo federal.

Loteamento de cargos

A prática de lotear a Esplanada dos Ministérios já é admitida por comandantes do país que têm nesta negociação uma oportunidade de obter maior apoio político no Congresso Nacional para a aprovação de projetos importantes para o planalto.

A distribuição de cargos também é conhecida como “toma lá, dá cá”.

Quem acompanha a política sabe que do outro lado do balcão este processo de pressão é fortemente utilizado por grupos que usam o poder parlamentar como barganha, ameaçando o governo de derrotas e trancando a pauta de votações.

E é por isso que vemos o “toma lá, dá cá” em todos os governos brasileiros, desde a redemocratização. Lista formada por José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma Rousseff, Michel Temer, Bolsonaro e, agora, novamente, Lula.

Terceiro mandato de Lula

Lula, neste terceiro mandato, tem tido maior dificuldade para demitir os seus ministros. Um exemplo é a demorada troca da ex-ministra Daniela Carneiro por Celso Sabino, no comando do Ministério do Turismo.

Agora, vemos novamente um arrastado processo de esboço de alguém que quer fazer mudanças, mas não quer desagradar ninguém.

Prova disso é a criação de novas pastas, como a da pequena e média empresa, das cooperativas e dos empreendedores individuais. A criação deste ministério abre espaço para mais uma vaga e, assim, outra cadeira para o Centrão.

Há ainda a possibilidade de criação do Ministério de Segurança Pública, pasta defendida por ala de parlamentares do PT. A criação seria resultado do desmembramento do Ministério da Justiça.

E há possibilidade: a divisão do Ministério do Desenvolvimento Social, para a criação do Ministério da Ação Social. Desta forma, com a criação de todas as pastas, o governo Lula igualará o recorde de Dilma Roussef, somando 39 ministérios da Esplanada dos Ministérios.

Entre os órgãos que passarão por renovação há a expectativa de uma grande mexida na Caixa Econômica Federal. As 12 vice-presidências da Caixa serão fatiadas entre PP, União Brasil e Republicanos.

Será impossível não deixar descontentes pelo caminho, especialmente no PSB, no PT e, talvez, no PCdoB, caso da possibilidade de ser trocada a comandante do Ministério de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos.

O que vem pela frente

Ano que vem tem eleição municipal novamente e a estratégia é promover grupos políticos, beneficiando redutos eleitorais. As mudanças na Esplanada dos Ministérios também refletem uma possibilidade de Lula enfraquecer a próxima candidatura presidencial do campo da centro-direita, em 2026.

A distribuição de cargos a aliados não é um fator problemático por si só. O erro é o modo como isso se dá no Brasil. As trocas deveriam ser feitas com base em questões programáticas. O que vemos diante de um leque tão amplo para contemplar os políticos é que governos fazem política com estes cargos e não políticas públicas com estas pastas. E, na mira, estão emendas e fundos com capacidade de transferência para estados e municípios.

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