Jirau evita paralisação total e espera por chuva nos próximos dias

A forte seca que atinge parte da Região Amazônica já causou o desligamento da usina de Santo Antônio e, indiretamente, a suspensão da linha de transmissão, “o linhão”, do rio Madeira, que leva energia para o Sudeste. A operação da hidrelétrica de Jirau também foi afetada pela escassez hídrica, mas a suspensão total da operação não está no radar e espera-se uma normalização para os próximos dias – esse restabelecimento é importante não só para o Norte, mas também para todo o país.

Em comunicado, a Jirau Energia informou que a usina não deve ser totalmente paralisada, mas a menor vazão de água no Rio Madeira, que abastece a hidrelétrica, reduziu a entrega de energia: “A Usina Hidrelétrica Jirau segue operando normalmente e de acordo com as ordens de despacho do ONS (Operador Nacional do Sistema). As turbinas da usina foram projetadas para operar com uma queda liquida entre 10 e 20 metros, considerando que a queda atual é 12,4 m e não visualizamos necessidade de paralisar a operação”.

Essa menor queda, no entanto, restringe a capacidade de geração de energia. Jirau tem uma capacidade instalada de 3.750 megawatts (MW) e 50 unidades geradoras. Atualmente, a capacidade de geração está em 270 MG, com 11 unidades geradoras em funcionamento – Santo Antônio tem uma capacidade de 3.568 MW.

Ações emergenciais

Essa energia das usinas de Rondônia, em geral, é despachada para o linhão do Rio Madeira e serve para abastecer o SIN (Sistema Interligado Nacional). No entanto, com as condições restritivas no Norte, a energia está sendo destinada ao sistema AC-RO.

Outras medidas tiveram que ser tomadas pelo ONS para garantir a segurança energética no Norte, como a acionamento de duas térmicas. O governo também se certificou que há diesel suficiente para mantê-las em operação por pelo menos 30 dias – a seca afetou a navegabilidade dos rios e isso também é um fator de atenção para garantir o suprimento energético na região.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, após participar de evento no Rio de Janeiro, dia 05, se mostrou confiante de que Jirau não seguirá o mesmo caminho de Santo Antônio: “Santo Antônio, pelas características do projeto da hidrelétrica, é a usina mais suscetível a esse tipo de impacto de escassez hídrica. Entre Santo Antônio e Jirau tem um remanso que garante maior segurança e permite maior capacidade de resiliência à crise hídrica”.

Reservatórios cheios

A visão do ONS é a de que não existe um problema de energia no país. E não há. Os reservatórios no Sudeste, maior região consumidora, estão em um patamar considerado elevado – 71,6% da capacidade. Com o início da temporada de chuvas no Norte, as usinas da região devem retomar a produção normal, “exportando” energia para o SIN. Essa energia servirá para preservar os reservatórios no Sudeste e Sul durante o verão, quando o consumo é maior.

Mas ao longo do segundo semestre o sistema de energia já deu alguns sustos. As consequências do apagão do dia 15 de agosto, que fizeram o ONS restringir por semanas o envio de energia do Nordeste para o SIN, e a onda de calor em agosto contribuíram para os preços do PLD (preço de liquidação das diferenças) saírem do mínimo de R$ 69 e passarem dos R$ 600 no final de setembro.

Esse tipo de desequilíbrio, mesmo que momentâneo, mostra que os efeitos das mudanças climáticas deverão ser acompanhados cada vez mais de perto pelo ONS e ter atenção total pelos formuladores da política energética. Se o Brasil quer ser um protagonista na transição energética global, precisa garantir segurança de operação às indústrias que buscam produzir em países com matriz energética mais limpa.

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