Compra de energia da Venezuela mostra fragilidade do Brasil

O Brasil vai voltar a comprar energia da Venezuela após quatro anos, o que deve garantir maior segurança energética ao Estado de Roraima. A decisão também representará uma economia em relação ao método atualmente vigente, que é o uso de usinas térmicas. Esse acordo, no entanto, é apenas um paliativo e uma solução final passa pela integração total do sistema interligado.

A compra do país vizinho começou a ser desenhada em outubro, quando o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, visitou a usina hidrelétrica de Guri, localizada no Rio Caroni, para avaliar as condições de produção e da linha de transmissão que liga a geradora venezuelana ao Estado de Roraima, o único do país que não faz parte do SIN (Sistema Interligado Nacional).

Para viabilizar a operação, a comercializadora de energia Âmbar, do grupo J&F, foi habilitada para fazer a importação e abastecer Roraima, que estava sendo atendido apenas por termelétricas movidas a diesel. Essa importação deve ser concluída nas próximas semanas.

A Âmbar afirma que o custo da energia que está vindo do país vizinho para Roraima se dará a um custo cerca de 50% abaixo do que se paga pela geração das termelétricas – além de mais caras, também possuem um elevado nível de emissão de gases poluentes.

Pela habilitação em curso, a Âmbar pode importar até 120 MWh, o que significará uma economia de até R$ 1 bilhão ao ano na conta de luz dos brasileiros, segundo a empresa.

“Estruturamos uma operação comercial que oferece ao Brasil uma nova alternativa para reduzir os custos da energia no país ao mesmo tempo que contribui para a redução das emissões de gases do efeito estufa pela matriz energética brasileira”, afirmou, em nota, Marcelo Zanatta, presidente da Âmbar.

Segundo o Ministério de Minas e Energia, a geração a óleo em Roraima tem um custo de até R$ 1.700 o megawatt-hora (MWh). Já a ata do CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico), que autorizou a importação, mostra que o custo da energia da Venezuela ficará entre R$ 900/MWh e R$ 1.080/MWh. O acordo é de três meses.

A solução encontrada passou pela reaproximação entre os dois países e a reforma da linha de transmissão por parte da Venezuela. É uma saída que ajudará a reduzir os custos da energia em Roraima e garantir maior segurança energética, mas ainda não é o suficiente.

O preço da energia para o Norte, segundo dados da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), está abaixo de R$ 90/MWh. O valor varia conforme os acordos e volumes fixados, mas essa cotação mostra como, apesar da economia, há um custo elevado no modelo de Roraima.

Esse custo mais elevado está atrelado ao fato de Roraima ser o único Estado que não está conectado ao SIN, criado no final da década de 1990. Mesmo em momentos de excedente de energia em outras regiões, Roraima fica refém das térmicas a diesel, mais caras e mais poluentes. Além disso, corre risco de segurança energética em momentos de seca nos rios da região, em que a navegabilidade é comprometida – e é pelos rios que parte do diesel chega à região.

Soluções como a encontrada pelo Ministério de Minas e Energia e Âmbar são necessárias para amenizar os custos, mas o governo precisa cumprir a promessa de interligar Roraima. A expectativa da pasta é que isso ocorra até o final de 2024. Não deixa de ser uma ironia o Brasil querer liderar a transição energética no mundo quando não consegue evitar que um de seus Estados fique dependente de um combustível fóssil.

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