A obrigação mundial de frear a escalada da temperatura do planeta faz com que novas tecnologias ocupem espaços de produtos poluentes. Para escapar da extinção, os motores a combustão contam com uma aliada: a gasolina sintética, que é feita com a combinação de gás de hidrogênio e dióxido de carbono, e dispensa o uso do petróleo.
De acordo com Karl Dums, líder sênior de projetos eFuels da Porshe na Alemanha, a gasolina sintética pode abastecer diversos setores de infraestrutura. “Acreditamos que com os eFuels abrimos um caminho tecnológico que oferece valor acrescentado à causa da sustentabilidade em todo o mundo. Ao mesmo tempo, há também potencial para outras aplicações: além do transporte rodoviário, os renováveis também poderiam ser utilizados no setor da aviação, no transporte marítimo ou mesmo na indústria química. A chave aqui é a implementação em escala industrial”, revela o especialista em desenvolvimento de combustíveis renováveis.
A empresa alemã é pioneira neste segmento entre as marcas de automobilismo e investe fora do país para atingir metas definidas em relação à gasolina sintética. “As maiores densidades de energia na forma de sol e vento são encontradas em regiões desérticas, por exemplo, ou no Sul do Chile. Portanto, a energia que existe ali tem que ser transportada para onde possa ser utilizada. A produção de eFuels torna isso possível. Nós da Porsche AG, em colaboração com HIF Global, Siemens Energy, ExxonMobil e outros parceiros internacionais, decidimos construir a planta piloto ‘Haru Oni’ em Punta Arenas, Chile. Aproveitamos as excelentes condições locais para explorar a energia eólica para produzir eFuels”, define.
Quando a gasolina sintética sai do laboratório para as pistas, na avaliação de Giuliano Losacco, automobilista bicampeão da Stock Car Brasil em 2004 e 2005, o desempenho do motor é semelhante ao apresentado quando se utiliza a gasolina comum. Losacco diz acreditar que o eFuel é uma alternativa positiva na indústria automotiva.
“A soma da gasolina sintética, que não polui, com veículos híbridos é fantástica. Isso será bom, porque vai ser muito difícil, em muitos lugares do mundo, ter acesso a carros elétricos. A transição de combustíveis é algo ainda muito novo, é algo muito bom para o futuro. Não vai precisar acabar 100% com os carros com motor a combustão. Acho muito legal carro elétrico, também, mas ter essa possibilidade para tantos carros que vão ter andando, e usar a gasolina sintética vai ajudar muito a reduzir a poluição e a conter as mudanças climáticas”, analisa.
O raciocínio de Giuliano Losacco vai de encontro com o pensamento de Karl Dums. “A electrificação não é tão fácil de implementar nos setores da aviação e da navegação como é no transporte rodoviário, por exemplo, e, portanto, acontecerá de forma mais lenta. Espero que consigamos criar um verdadeiro valor acrescentado através da utilização de eFuels”, explica o representante da Porsche.
A construção de uma estrutura sólida global para a utilização da gasolina sintética em larga escala passa por diversos tipos de testes, inclusive com máquinas de alto nível. “Ninguém está preparado ainda. Acho que o mundo está na fase de desenvolvimento desta gasolina para fazê-la em larga escala. Em 2026, a Fórmula 1 mudará o regulamento e deve passar a usar este combustível. É sempre lá que começam essas iniciativas”, ressalta Giuliano Losacco.
O piloto também reforça que a evolução do setor de Transportes também tem influência de outras categorias. “Todas vão tentar usar a gasolina sintética com o híbrido para não poluir. Isso sempre ajuda a contribuir, porque eles testam, conseguem ver a potência. Hoje, a Stock Car usa a gasolina Podium da Petrobras, de carbono neutro. É a gasolina que menos polui. É um sinal de que a categoria está se preocupando com esta questão. Se todo mundo cooperar um pouco, vai ajudar no futuro. Acho que quando o mundo estiver preparado, o Brasil também vai estar”, conclui.
Foto: Porsche/Centro de produção Haru Oni, em Punta Arenas, Chile