É um mercado que ainda está em estágio incipiente, mas o Brasil já conta com duas empresas de certificação para o hidrogênio, ou seja, que conseguem garantir que o elemento foi feito a partir de fontes de energia de baixa emissão de carbono. EDP e Furnas passaram pelo processo conduzido pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), que, por enquanto, emite os atestados de conformidade no Brasil.
O presidente da CCEE, Alexandre Ramos, explica que ter hidrogênio certificado servirá para aumentar a confiança do investidor que estiver em busca de alternativas para a transição energética.
“A certificação é uma iniciativa pioneira, que vai garantir ao cliente a compra de um produto verdadeiramente sustentável”, disse, em nota.
A planta de Furnas, que é uma subsidiária da Eletrobras, ganhou a certificação para o hidrogênio ao ser atestado que a eletrólise é feita a partir da energia solar e hidráulica na planta de Itumbiara (MG). Trata-se de um projeto que já produziu, desde 2018, três toneladas de H2V (hidrogênio verde).
“Como líder em geração e transmissão de energia elétrica no país e em linha com sua estratégia de descarbonização, a Eletrobras segue contribuindo para que a matriz energética brasileira seja uma das mais limpas e renováveis do mundo”, destacou a companhia em um comunicado ao mercado.
Também recebeu a certificação a EDP devido ao hidrogênio produzido no Complexo Termelétrico de Pecem (CE), que utiliza energia solar no processo de eletrólise.
Essa certificação da CCEE teve apoio do Banco Mundial. Sem uma regulamentação no país e um mercado regulado, esses processos são feitos ainda de forma voluntária.
Processo em seis etapas
De acordo com a CCEE, ao todo são seis etapas, entre elas, a confirmação de que o hidrogênio é extraído pela eletrólise; a origem da energia para esse processo (Sistema Interligado Nacional, o SIN; autoprodução renovável ou conexão direta offgrid); e o cálculo para ter um balanço entre as emissões da energia utilizada e o hidrogênio produzido.
Dados do Banco Mundial mostram que são produzidos anualmente 600 milhões de toneladas de hidrogênio, mas apenas 1% desse volume é considerado verde. A meta é que, no futuro, a fatia oriunda de energia renovável seja equivalente a dois terços da produção.
A certificação foi feita a partir de reuniões com representantes de diferentes pontos da cadeia produtiva e leva em conta as particularidades do país, como a presença de hidrelétricas e as exigências do mercado europeu.
Por enquanto, a CCEE fornece dois tipos de certificado: um para quando a eletrólise é feita 100% com energia de fontes renováveis (solar, eólica e hidrelétrica) e, outro, para processos que tenham a presença de outras fontes, como energia termelétrica. A ideia é acompanhar o desenvolvimento do mercado para ajustar os critérios, caso necessário.
O Brasil já é líder na produção de energia renovável. É de se esperar que também tenha um papel relevante na comercialização de hidrogênio verde. A iniciativa da CCEE em ser certificadora é válida, mas esse mercado só irá se desenvolver de fato, com atração de investimentos e demanda externa pelo produto, se o país tiver uma regulamentação clara e alinhada aos principais países compradores. Para ter voz nesse debate, o Brasil precisa aprovar a regulamentação, que, por enquanto, segue em segundo plano no Congresso Nacional.