A combinação entre falhas técnicas e clima fazem com que as usinas eólicas instaladas no Brasil tenham gerado nos últimos anos menos energia do que a média global. A consequência direta para esses projetos é a redução das receitas e, ao mesmo tempo, um aumento dos custos, segundo avaliação de agência de classificação de riscos Fitch.
O levantamento leva em conta 31 projetos eólicos que são acompanhados pela Fitch e que representam mais de 50% da carteira global da agência, ou seja, considerando todos as empresas do setor que emitiram dívida que têm nota de crédito (rating).
Os projetos eólicos brasileiros têm gerado, historicamente, 80% do volume da métrica chamada de P50 (estimativa de produção com 50% de probabilidade de ser excedida em qualquer ano). A média global calculada pela Fitch é de 88%. A baixa produção se agravou em 2021 e 2022, quando houve aumento das chuvas e redução de ventos necessários à geração desse tipo de energia.
São dois os fatores que prejudicaram a geração de energia desses projetos. O primeiro foi um número de falhas em componentes importantes, como caixas de transmissão e rolamentos, acima do esperado. Isso gerou paradas não programas. Segundo as contas da Fitch, cerca de 60% dos parques eólicos tiveram ao menos um incidente em equipamento não essencial – a maior parte em plantas com mais de cinco anos.
“Projetos com problemas desta natureza levam, em média, sete meses para estabilizar suas operações. Os custos adicionais e as necessidades de investimentos pressionaram o fluxo de caixa de seis emissores que não contavam com contratos de escopo completo de operação e manutenção (O&M)”, segundo o relatório da Fitch.
O segundo fator está ligado a mudanças nos padrões climáticos provados pelo La Niña. A maioria dos projetos brasileiros está no Nordeste, que registrou aumento das chuvas, o que reduziu os recursos eólicos entre 2020 e 2022.
Perspectivas
Em 2023 a menor geração das eólicas continua, mas com um fator adicional. No dia 15 de agosto, ocorreu uma falha no sistema elétrico que levou a um apagão. A decisão do ONS (Operador Nacional do Sistema) foi suspender o envio de energia do Nordeste, que tem excedente de geração solar e eólica, para as demais regiões.
As causas do apagão já foram esclarecidas, mas as restrições continuam enquanto o ONS trabalha para que não ocorra descasamento entre os modelos matemáticos e a capacidade das usinas – reforçando que eólica e solares são energias intermitentes.
Enquanto faz os ajustes, segue a redução do intercâmbio do Nordeste para as demais regiões. A geração das eólicas do Nordeste, que chegava a 16.000 MW (megawatts) antes do incidente, agora está em menos de 6.000 MW.
Menor geração tem efeito negativo sobre a geração de caixa desses projetos. Essas pressões fizeram a Fitch colocar em perspectiva ou observação negativa 11 dos 31 projetos nos últimos 12 meses. Na prática, significa dizer que há um “viés” de corte para as notas de crédito dessas eólicas. Outras duas tiveram a nota rebaixada.
Essa queda na geração é um sinal de alerta para o setor de energia e para o planejamento da política energética.
De um lado, é preciso avaliar o que tem causado uma incidência tão grande de falhas que levam à paralisação dos projetos. Já o ONS precisa de celeridade para ajustar os modelos que deixam o sistema seguro para que o potencial de geração de energia eólica no país possa ser utilizado. Afinal, o país se encontra em um momento de relativo conforto em relação aos reservatórios das hidrelétricas, mas não é o momento para se descartar uma geração tão relevante de energia.