Descarbonização e diversidade no setor energético

A transição energética é uma necessidade global cada vez mais presente no planejamento dos setores público e privado em todo o mundo. O alerta da ONU para catástrofes climáticas e acordos como o de Paris fazem com que todas as esferas da sociedade repensem práticas e consumos.

O setor de Energia lidera discussões sobre quais decisões vão nortear a neoindustrialização. Oportunidades de negócios surgem e outras são impulsionadas, como a produção de hidrogênio verde e a utilização de créditos de carbono. As portas também se abrem para ampliar a participação das mulheres em um ambiente majoritariamente masculino.

O debate sobre a presença feminina no setor de Energia e no processo de transição energética foi destaque no evento Energy Transition Research & Inovation realizado na Universidade de São Paulo (USP). Seis mulheres que são referências no mercado e no universo acadêmico apresentaram visões, projetos e perspectivas sobre o tema.

Camila Farias, líder de projeto de tecnologia da Shell, afirma que a presença de mulheres no setor de Energia sempre foi pioneira. “Por muito tempo, éramos uma só em uma sala de reunião. Quando a gente diz que é interessante ter mulheres em cargos de liderança, há um longo caminho pela frente. Só trilharemos este caminho se tivermos colaboração. O mesmo ocorre na transição energética. Estamos indo todos na mesma direção”, diz.

A representante da Shell na conferência sobre transição energética usa como exemplos as ações da empresa para promover um ambiente de trabalho inclusivo. “A Shell tem metas ambiciosas e progressistas. Dentro da nossa estratégia de transição energética, a principal delas é colocar as pessoas antes dos negócios. As pessoas importam mais do que os resultados. Temos alguns programas de inclusão de gênero na Shell. Não são compostos apenas por mulheres. Homens contribuem com esse programa. O caminho da transição energética é fascinante, bem como o caminho da diversidade”, discorre Camila Farias.

Um pilar da descarbonização é a produção de energia eólica, que tem Elbia Gannoum à frente da ABEEólica, associação que representa o setor no Brasil. A executiva lembra que, de acordo com relatório da Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena), mulheres representam 32% do total de pessoas que atuam no setor de Energia.

Elbia Gannoum diz acreditar que o debate sobre ampliar a diversidade é fundamental. “As novas gerações, pessoas com idade na faixa dos 20 anos, não têm essa barreira com gênero. Mas as gerações que atualmente ocupam cargos de decisão, sim. Por isso, para que tenhamos uma crescente na presença de mulheres no setor de Energia, é importante discutir esta questão”, retrata a presidente da ABEEólica.

A maior presença de mulheres no mercado de Energia passa necessariamente pela formação de profissionais. Telma Teixeira Franco, coordenadora e diretora executiva do Centro de Engenharia de Plasticultura da Unicamp, reforça que as mulheres podem e contribuem com todos os requisitos de ESG estabelecidos pelas Nações Unidas.

“Mulheres representam a maioria dos estudantes do nível PHD e Master no setor de engenharia química. Estamos em uma crescente na quantidade de mulheres em posições de liderança no mundo acadêmico. O maior desafio para as mulheres na carreira acadêmica é entender o que elas podem fazer, entender o potencial que têm, e estamos neste caminho”, avalia Telma Teixeira Franco.

O esforço pelo engajamento recebe o apoio de Suani Coelho, professora e orientadora de pós-graduação em Energia da USP. “Quando eu era estudante, minha turma era formada por mil e quinhentas pessoas. Apenas cinco eram mulheres. Esta diferença vem diminuindo ao longo dos anos. Mulheres são mais adaptáveis e abertas a mudanças, isso é essencial neste momento de transição energética. Estamos aqui para engajar mais mulheres a participar deste processo”, incentiva a acadêmica.

A responsabilidade pelo aumento de mulheres no mercado de trabalho é também dos homens. É preciso estabelecer planos de carreira e de gestão de equipe que levem em consideração a diversidade de gênero. Isso contribui para um maior número de ideias que podem se tornar alternativas para solucionar problemas climáticos e sociais.

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