Roberto Teixeira da Costa

Demografia, desenvolvimento econômico e geopolítica

O Brasil não está se dando conta do que vem ocorrendo com a sua população e o impacto que isso poderá acontecer no futuro.
O IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – divulgou o resultado do Censo de 2022 em que se constata que a mudança demográfica aconteceu de forma menos rápida do que a projetada. Passamos de uma população de 190,7 milhões de habitantes em 2010 para 203,06 milhões no recente censo. Possíveis explicações conjunturais para que o crescimento fosse menor que o projetado: a pandemia provocada pela COVID-19; desempenho mais fraco da economia, influenciado por tendência estrutural pela queda da taxa de natalidade e aumento da mortalidade.

O crescimento populacional entre os dois censos foi em média de 0,52%, a menor taxa em 150 anos, e essa taxa de crescimento anual foi a metade da verificada na década anterior.

Cinco dos dez municípios mais populosos do país perderam população: Salvador (9,60%), Recife (3.2%), Belo Horizonte (2,5%), Rio de Janeiro (1,7%) e Fortaleza (1,0%).

A Região Sudeste tem 84,8 milhões de habitantes, o que representa 41,8% da população do país. Os três Estados brasileiros mais populosos – São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro – concentram 39,9% da população brasileira.

O Brasil envelhece e tem idade mediana de 35 anos; idosos já são 10,9%. Assim, a comparação das pirâmides etárias ao longo dos últimos 42 anos evidencia o franco envelhecimento da população brasileira, refletido no gradual estreitamento da base da pirâmide (que representa as crianças) e alargamento do seu topo (os idosos).

No Brasil, em 1970, a média era de 5,7 filhos por mulher; recentemente, caiu para menos de 2.

Essa modificação é dramática no mundo todo! Até a China, que antes limitava um filho por família, subiu a régua para dois por casal.
Vale lembrar que a população do Rio de Janeiro cresceu pouco, e é a mais idosa. Hoje, o bairro de Copacabana poder ser considerado o terceiro ou quarto “país” mais idoso do mundo, precedido por Japão em primeiro lugar e por Itália e Grécia. A concentração demográfica naquele bairro, associada ao clima e à sua topografia plana, com bom sistema de comunicação, talvez expliquem esse resultado.

No Brasil, há uma justificada preocupação a médio prazo, apesar da Reforma da Previdência aprovada em 2019 e o contínuo envelhecimento da população. Em 2060, calcula-se que metade da força de trabalho terá mais de 40 anos.

Quando o sistema se inverte como no Brasil, é preciso aumentar dramaticamente a produtividade. Tanto é assim que, como menciona o Valor Econômico em 25 de maio de 2023 sob o título “Etarismo é item na agenda da diversidade”, as organizações começam a criar estratégias para combater o preconceito referente à idade e, em certas atividades, profissionais aposentados prematuramente estão sendo demandados a regressar ao trabalho.

Desenvolvimento econômico

O Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos, ONU Habitat (2022), divulgou um relatório afirmando que a rápida urbanização foi apenas temporariamente atrasada pela pandemia do Covid-19 e que a população urbana deve crescer em mais 2,2 bilhões de pessoas até 2050: as cidades precisam se reconstruir de forma inclusiva e sustentável.

O relatório conclui que “as cidades vieram para ficar, e o futuro da humanidade é, sem dúvida, urbano”, embora afirme que os níveis de urbanização são desiguais, com o crescimento desacelerando em muitos países de alta renda.

Se de um lado a urbanização e o envelhecimento da população são fatores positivos, as implicações nos sistemas de saúde são sensíveis. Viveremos mais e com melhor qualidade de vida nos centros urbanos? Essa é a grande questão.

Por aqui precisamos apressar e aproveitar o bônus demográfico enquanto a população economicamente ativa ainda é superior à de crianças e idosos.

A relação entre trabalhadores ativos e população com mais de 15 anos de idade está decrescendo. Há 50 anos, cerca de 80% da população estava trabalhando, percentual que caiu para 59% há 25 anos e atualmente é de 43%, e terá forte impacto na proporção daqueles que contribuem para a Previdência Social. Isso implicará na necessidade de aumentar a produtividade para não sobrecarregar o sistema previdenciário. A Previdência Social é responsável pelo pagamento de 37 milhões de aposentados e o número vem crescendo. Para 2023 a projeção de custo é de R$ 270 bilhões.

Para que a Previdência se autossustente e atenda às necessidades, teremos que fazer reformas para diminuir o peso da dívida para nossas futuras gerações.

No ano em curso a Índia estaria ultrapassando a China como a nação mais populosa do mundo. Cerca de 20 milhões de jovens entrarão no mercado de trabalho por ano. Se gerarem renda, haverá bônus demográfico. De sua população atual, 55% têm idade entre 15 e 45 anos.

A projeção da ONU para o ano de 2100 indica que Índia, China, Nigéria, Paquistão, República Democrata do Congo, Estados Unidos, Etiópia, Indonésia, Tanzânia e Egito estariam entre os maiores países do mundo. Tal alteração substancial entre os países mais populosos do mundo poderá ter forte impacto na geopolítica mundial.

O decréscimo que vem acontecendo em alguns países decorre da queda de taxa de fertilidade mundial. O número médio de filhos por mulher, que em 2020 era de 2,30, poderá não superar 1,60 em 2100:

  • o Brasil está entre as 23 nações cuja população poderá diminuir para menos da metade;
    • o mesmo poderá acontecer com a Espanha;
    • na Itália, queda de 61 para 31 milhões (em 2022, o país teve a menor taxa de natalidade desde a unificação, em 1861);
    • no Japão, de 128 milhões para 60 milhões; e,
    • para Portugal também há projeções de queda expressiva de população, o que tem estimulado a imigração.

É importante olhar para frente. A mudança das populações mundiais, migrações e deslocamentos humanos afetará a geopolítica global.
Temos tempo para fazer os ajustes necessários. Não são urgentes, mas não podemos perder tempo

Creio que, comparativamente com os demais países, o Brasil tem, sim, problemas, mas são contornáveis!

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