Certificado I-REC ou crédito de CO2?

A corrida pela transição energética para combater o aumento da temperatura global faz com que países e empresas criem regras e alternativas para reduzir a emissão de gases de efeito estufa.

Saber a origem e a quantidade do carbono (CO²) projetado no meio ambiente, por exemplo, são formas internacionais de fazer com que todos os setores da indústria tenham um consumo cada vez mais consciente de energia no processo de produção.

Para se adaptar a cláusulas de contratos e atingir metas de proteção ambiental, empresas de grande porte estão em busca de selos que comprovem que são responsáveis e que se preocupam com a preservação da natureza.

Duas ferramentas presentes neste universo são o I-REC e o certificado de crédito de carbono. Mas, afinal, qual é mais vantajoso e quais são as diferenças entre eles?

I-REC

De acordo com o Programa de Certificação de Energia Renovável “REC Brazil”, o I-REC é “um sistema global de rastreamento de atributos ambientais de energia projetado para facilitar a contabilidade confiável de carbono, para Escopo 2, compatível com vários padrões internacionais de contabilidade de carbono.”

Luciano Figueiredo, gerente de projetos do Instituto Totum, afirma que é preciso fomentar o uso de energias renováveis e que todos podem ter o I-REC.

“Qualquer consumidor de energia elétrica, seja do mercado livre ou do mercado cativo, pode adquirir o certificado. Hoje, a concentração do I-REC está em empresas multinacionais e de grande porte, porque elas têm uma preocupação com redução de emissão de gases de efeito estufa. Já pessoas físicas ou empresas de menor porte, como padarias e pequenos comércios, não têm ainda essa visão de mercado e de sustentabilidade. A gente acha que, com a abertura de mercado, isso pode começar a mudar um pouco, tendo a entrada de empresas menores no processo.”

Requisitos para solicitar o I-REC

“Se a usina estiver operando oficialmente no Brasil, ela consegue se registrar no I-REC. O processo é extremamente simples, o processo leva até dois meses. O I-REC é sempre emitido com base em energia já gerada”, explica Luciano Figueiredo.

O que é necessário:

  • Contrato Social;
  • Demonstração financeira dos últimos 12 meses;
  • Preenchimento de formulário CSD01;
  • Assinatura de contrato junto a Evident Brasil;

Principais adeptos do I-REC

“Hoje, o setor primário é o que mais emite o certificado I-REC, seguido do setor de serviços financeiros. Indústrias do alumínio, aço petroleira. Instituições financeiras, também: Banco do Brasil e Banco Itaú adquirem porque eles têm um consumo de energia elétrica extremamente alto. Só o Banco do Brasil, por exemplo, compra por ano 500 mil certificados. O Itaú compra mais 500 mil. A Vale adquire 4 milhões de certificados por ano. Em resumo, são normalmente empresas que estão no mercado livre de energia, não no mercado cativo”, conta o gerente de projetos do Instituto Totum.

“O programa brasileiro é o segundo maior do mundo, atrás apenas da China”

“As empresas compram o certificado I-REC anualmente. Então, todo ano, eles vão renovando. Normalmente, quem usa leva em conta o ano do inventário: se eu consumir em 2022, quero o certificado de 2022. Se eu consumir em 2023, eu quero o de 2023, e assim por diante”, conclui Luciano Figueiredo.

Certificado de crédito de carbono

O documento é expedido às empresas a partir da “certificação de títulos com base na quantidade de emissão ou remoção de carbono e no impacto proporcional em relação as metas de equilíbrio do sistema climático de Carbono zero”. É desta maneira que o Instituto Nacional de Certificação de Carbono (INCarbon) define esta ferramenta desenvolvida para as empresas.

André Leal, gestor da BlockC, empresa que avalia e opera créditos de carbono de diversas origens, afirma que “a nova roupagem do setor de carbono é a análise de emissões para descarbonização.”

“Tudo pode ser mais descarbonização. É importante olhar para além do setor, pensar como sociedade para a descarbonização.”

Para o especialista do setor, todas as atividades da sociedade e da indústria podem ser repensadas de modo que ocorra uma redução que classifica como “intrínseca”.

Por exemplo, se alguma frota de caminhões que utiliza diesel fóssil for substituída por gás natural veicular ou biodiesel, essa frota passa a ter menos emissão de gás carbono. Essa troca é elegível para receber crédito de carbono”, exemplifica André Leal.

Requisitos para negociar créditos de carbono:

“O principal requisito é ele ser elegível e adicional. Então, não há como se considerar um projeto de geração de energia a carvão, fóssil, como energia limpa. Em algumas instâncias, como os projetos de energia renováveis já estão muito disseminados na sociedade, eles acabam não entrando em outro critério, que é o da adicionalidade. Hoje, é bastante normal ver projetos eólicos. Em países como Índia e China, ainda é adicional. Mas, mesmo assim, começa a sofrer certas restrições de adicionalidade”, sintetiza André Leal.

Como comprar:

O processo de compra de créditos de carbono deve seguir um passo a passo específico, sob pena de se incorrer em prejuízos:

  • Confirmar a existência e o registro do projeto por meio de documentação
  • Checar se os créditos comercializados preencher os requisitos de emissão, validação certificação e homologação por empresas autorizadas
  • Conferência se créditos estão disponíveis para evitar duplicidade na compra

Como vender:

  • Projeto precisa preencher requisitos de geração de créditos de carbono
  • Cadastro com empresa responsável por emitir certificados
  • Fiscalização e validação internacional do projeto
  • Emissão de crédito para depois negociá-lo

Importância do crédito de carbono

A substituição de fontes de energia é descrita como fundamental para empresas que se preocupam com reputação e sobrevivência econômica.

“Existe uma questão de princípios e valores de conduta. O mercado ainda é voluntário neste momento. O crédito de carbono é uma métrica de eficiência e de participação. Algumas empresas de energia e do agro podem, com este crédito, vender no mercado e ganhar receitas com esta venda. Todo esse ganho também pode reverter em uma estratégia de marketing para mostrar que a empresa está cumprindo metas e superando desafios, o que pode contribuir para as empresas ganharem concorrências e fecharem  contratos, acessar outros mercados.”

Principais adeptos do certificado de crédito de carbono

O setor de Energia, segundo o gestor da BlockC, é o que mais emite certificação de crédito de carbono por conta de haver muitas empresas que utilizam combustíveis fósseis, por exemplo.

Outro destaque em relação aos certificados está ligado às florestas. André Leal detalha que, apesar de não serem uma indústria, as florestas estão no centro da discussão por conta dos impactos causados pelo agronegócio.

“Floresta não é uma indústria, existe a indústria do Agro, mas estou falando da indústria da preservação da floresta. O Brasil não é um grande emissor de C02, mas entra na janela de países emissores significativos por conta do desmatamento da Amazônia. Talvez, quase a metade do desmatamento no país esteja ligada à agricultura.”

Diante de mudanças climáticas cada vez mais presentes e impactantes no dia a dia, por meio de catástrofes naturais e aumento da média global da temperatura, ferramentas como crédito de carbono e I-REC sinalizam que existe uma transformação acelerada no modo de produção e consumo.

“É muito evidente, muito dramática a necessidade de se transformar o mundo mais leve de carbono. O mundo já está cobrando a conta e isso vai chegar mais cedo ou mais tarde para todos. É este princípio que deveria nortear a conduta das empresas”, alerta André Leal.

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