Brasil deve ter 80 novas plantas de biometano em 5 anos, projeta ABiogás

Em meio à realização da COP28, com discussões sobre o cumprimento de promessas de combate às mudanças climáticas, setores diretamente essenciais para a aceleração da transição energética se movimentam para tirar projetos do papel. É o caso de tomadores de decisão sobre o biogás, que acreditam que o combustível terá cada vez mais espaço nas mesas de negociação.

Parte do otimismo vem de uma sinalização de trabalho em conjunto entre os setores público e privado. No início do segundo semestre deste ano, o governo federal anunciou que vai haver um investimento em uma planta de biometano na cidade de Piracicaba, Interior de São Paulo, por meio do novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), algo inédito no setor de Energia.

De acordo com Renata Isfer, presidente da Associação Brasileira do Biogás (ABiogás), o país deve ter novas 80 plantas de biometano nos próximos cinco anos, um aumento expressivo na produção do biocombustível 100% renovável com grande impacto para a indústria de transporte no Brasil.

“No setor de transportes pesados, o biometano tem o poder de revolucionar: a substituição de caminhões a diesel por aqueles movidos a biometano pode resultar em uma redução de 90% nas emissões,” diz Renata Isfer. Leia a entrevista completa:

Quais fatores fazem do biometano um combustível essencial para a transição energética?

O Brasil tem a chance de ser líder global em energia renovável, posicionando-se na vanguarda da transição energética. O biometano não é apenas uma alternativa; é uma solução. Ele reafirma o compromisso nacional com a sustentabilidade e promove uma economia circular eficiente, em que resíduos são transformados em valiosos recursos energéticos. No setor de transportes pesados, o biometano tem o poder de revolucionar: a substituição de caminhões a diesel por aqueles movidos a biometano pode resultar em uma redução de 90% nas emissões. No setor agropecuário, o biometano se destaca tanto como fonte de energia quanto como insumo crucial na produção de biofertilizantes. Seu potencial produtivo pode atender até 30 vezes a demanda brasileira de ureia agrícola, pavimentando o caminho para uma agricultura mais verde e autossuficiente.

O biometano não é apenas uma alternativa sustentável, mas também uma fonte de energia prática. Tecnicamente equivalente ao gás natural, e se integra à infraestrutura existente sem necessidade de reinventar a roda ou de investimentos maciços.

Além disso, os resíduos produzidos atualmente, se convertidos em biometano, podem gerar mais de 120 milhões de m³/dia – praticamente o dobro do consumo atual de gás natural no Brasil, e muito superior ao que pode ser escoado do Pré-sal.

Há também a questão da logística. Enquanto os vastos reservatórios do Pré-sal exigem operações complexas em águas ultraprofundas e com custos astronômicos associados, o biometano oferece uma simplicidade encantadora. Produzido em terra e frequentemente próximo a centros de demanda, seu escoamento é menos complicado e oneroso.

Um ponto relevante é que o biometano pode ser a chave para a independência e autossuficiência energética do Brasil, pois é um substituto renovável de combustíveis que hoje precisam ser importados, como o gás natural, o diesel e o GLP. Ao reduzir a dependência externa, o país se torna mais resiliente em relação a oscilações de mercado e crises energéticas.

 Como impulsionar a produção de biogás no Brasil?

 Assim como todas as demais fontes, a ampliação do biogás passa por políticas públicas, linhas de financiamento direcionadas, bem como incentivos tanto para a produção quanto para o consumo. Em relação ao biometano, a ABiogás vem trabalhando em propostas como previsão de participação no mercado, a criação de um mercado de certificado de origem e o desenvolvimento de corredores sustentáveis.

Quanto o mercado de biogás avançou no país nos últimos cinco anos?

 Em cinco anos, o número de plantas de biogás para a produção de energia elétrica passou de menos de duzentas, com 175 MW de capacidade instalada, para quase quinhentas plantas, com aproximadamente 400 MW de capacidade instalada. No caso do biometano, o número de plantas aumentou de três para seis, enquanto a capacidade instalada aumentou de 300 mil m³/dia para 470 mil m³/dia.

Qual sua avaliação sobre o atual momento do biogás no Brasil?

O momento atual é de grande demanda pelo biometano pela sua capacidade de descarbonizar setores com poucas alternativas de descarbonização, como o transporte pesado e a indústria. Com isso, as projeções e investimento em novos projetos vem aumentando, de modo que a ABiogás já mapeou a entrada de oitenta novas plantas nos próximos cinco anos, chegando ao volume de 6,6 milhões de m³/dia de produção.

Como a proposta do governo de criar um marco legal do hidrogênio sem incentivos pode impactar o setor de energia?

Por ser uma nova fonte de energia, o hidrogênio precisa de regulamentação para a criação dessa indústria no Brasil. Todos os incentivos precisam ser muito bem avaliados pelo governo, mas é importante notar que muitos setores hoje têm incentivos sem precisar mais. Além disso, os incentivos a fontes fósseis são extremamente prejudiciais ao desenvolvimento de fontes renováveis.

Qual a importância de um trabalho em conjunto entre os setores público e privado para que o biogás conquiste mais espaço no mercado energético brasileiro?

O trabalho em conjunto é primordial. O setor se desenvolveu até agora praticamente sem incentivo nenhum, mas o ritmo poderia ser muito mais acelerado com políticas direcionadas e previsibilidade para os investidores e consumidores. Vemos o setor privado com apetite para investir e buscando soluções, mas faltam direcionamentos claros do governo e mesmo fontes de financiamento adequadas à realidade do biogás e do biometano.

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