Não estamos no bom caminho para limitar o aquecimento global, diz representante do Clima dos Estados Unidos

O balanço global no âmbito do Acordo de Paris mostra que não estamos no bom caminho para limitar o aquecimento a 1,5ºC”. Esta é a avaliação de Emma Sylves-Berry, coordenadora de Diplomacia Pública do Gabinete de Oceanos e Assuntos Científicos e Ambientais Internacionais dos Estados Unidos.

A integrante da equipe de John Kerry, Enviado Presidencial Especial para o Clima, afirmou que o país, ao lado do Brasil, comprometeu-se a reunir uma coligação de interessados ​​no setor tecnológico para “explorar como esta indústria pode agregar para a implementação do Plano de Transformação Ecológica”. O objetivo é acelerar o processo de descarbonização e frear o uso de combustíveis fósseis.

Confira abaixo a entrevista completa.

Como os Estados Unidos atuam com o setor privado no campo da transição energética?

Uma forma de os Estados Unidos trabalharem com o setor privado para financiar os esforços dos países para acelerar a implantação de energia limpa é através da iniciativa “Acelerador de Transição Energética (ETA)”. A ETA incentiva os países participantes a intensificarem a implementação de políticas e atividades transformadoras que proporcionem reduções verificadas de emissões em todos os seus setores elétricos, incluindo o uso de energia limpa, a retirada de combustíveis fósseis, o aumento da capacidade de armazenamento, transmissão e distribuição, bem como as mudanças políticas necessárias.

Adicionmos novos parceiros à Coalizão First Movers, com o Brasil anunciando que será o primeiro país latino-americano a aderir a esta iniciativa para se comprometer a ajudar a criar mercados iniciais em tecnologias limpas através de medidas políticas e envolvimento do setor privado, com o objetivo de descarbonizar a difícil indústria pesada e o transporte de longa distância.

Quais os esforços do governo americano para atingir a meta de emissão zero de poluição?

Reconhecendo que travar a desflorestação e a degradação florestal até 2030 e que restaurar os ecossistemas para que absorvam mais carbono são os elementos mais importantes para nos colocar no caminho para a neutralidade carbónica global até 2050, os Estados Unidos co-presidiram o 32º membro da Parceria de Líderes Florestais e Climáticos, que anunciou progressos, incluindo o lançamento de pacotes iniciais para florestas, clima e natureza em quatro países; o estabelecimento de uma plataforma de apoio aos povos indígenas e comunidades locais na ação climática florestal; o lançamento de um roteiro para mercados de carbono florestal de alta integridade; e a emissão de declaração conjunta sobre o uso de madeira sustentável na construção.

Embora os Estados Unidos tenham lançado a Lei de Redução da Inflação para fomentar investimentos na redução de emissões de CO2 nos EUA, o governo americano também está disposto a fomentar a mesma linha de investimentos do Brasil, como a produção de hidrogênio de baixo carbono, por meio de instituições como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento)?

Os Estados Unidos estão trabalhando para incentivar investimentos em clima e energia limpa no Brasil, inclusive por meio do apoio a uma missão de tecnologia verde em setembro de 2023, organizada pela Câmara de Comércio dos EUA, que reuniu 40 empresas e sete agências do governo dos EUA para examinar oportunidades de investimento no país.

O Brasil ainda não regulamentou totalmente seu mercado de hidrogênio de baixo carbono. Estaria o governo dos EUA disposto a cooperar com o governo brasileiro para desenvolver um quadro regulatório sólido para esse mercado, mesmo que isso implique exportar hidrogênio verde para os Estados Unidos, competindo, portanto, com os produtores americanos de hidrogênio?

Os Estados Unidos se envolvem com o Brasil em uma série de questões climáticas e de energia limpa, incluindo o hidrogênio. O Brasil se juntará à First Movers Coalition como parceiro governamental e para ajudar a desenvolver a demanda por hidrogênio limpo e produtos industriais limpos e sempre acolhemos com satisfação a oportunidade de envolvimento em planos para desenvolver capacidade de energia limpa. O diálogo da indústria de energia limpa com o Brasil também inclui colaboração direcionada sobre o hidrogênio limpo. Por outro lado, aplaudimos o anúncio do Brasil na COP28 em relação ao desenvolvimento de novos regulamentos para as empresas de petróleo e gás reduzirem as emissões de metano até o final de 2024.

Qual a sua visão sobre EUA e Brasil trabalharem juntos para preservar a Amazônia?

Os Estados Unidos têm uma longa e profunda história de cooperação para apoiar o esforço do Brasil para conservar a floresta amazônica e outros ecossistemas, e desenvolver oportunidades econômicas que contribuam para o bem-estar dos residentes da Amazônia. Isto inclui uma série de programas da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) para construir a bioeconomia, apoiar os povos indígenas e as comunidades locais e melhorar a gestão das áreas protegidas. Os Estados Unidos continuam a sua liderança no combate ao desmatamento na Amazônia através da aplicação contínua da Lei Lacey dos EUA para combater a exploração da madeireira ilegal e o comércio associado, apoiando ferramentas para os países detectarem o desmatamento ilegal e construindo capacidade e redes para cooperação e ação policial. O Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA coordenou mandados de busca e apreensão de madeiras nobres da Amazônia, em cooperação direta com as autoridades brasileiras.

Quais os alinhamentos feitos entre Estados Unidos e Brasil durante a COP28?

O enviado presidencial especial para o clima, John Kerry, reuniu-se com o ministro da Economia do Brasil, Fernando Haddad, para afirmar o apoio dos EUA ao Plano de Transformação Ecológica Brasileiro, inclusive trabalhando com parceiros para melhorar e expandir o uso de diversos instrumentos para contribuir com os fluxos de financiamento e apoio de parceiros governamentais, filantrópicos, do setor privado e multilaterais. Outro ponto tratado no encontro foi sobre reunir uma coligação de intervenientes interessados ​​no setor tecnológico para explorar como esta indústria pode agregar para a implementação do Plano de Transformação Ecológica. Isto complementou o anúncio feito em abril pelo presidente Joe Biden de que solicitará US$ 500 milhões ao longo de cinco anos para o Fundo Amazônia e atividades relacionadas. O financiamento inicial foi transferido e continuaremos a trabalhar com o Congresso nesta solicitação.

Qual a avaliação dos Estados Unidos sobre o resultado final da COP28?

A Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas em Dubai alcançou resultados históricos, incluindo um apelo a todas as partes para que abandonassem os combustíveis fósseis nos sistemas energéticos para atingirem zero emissões líquidas até 2050 e uma decisão tomada no primeiro dia da conferência para operacionalizar o financiamento, incluindo um fundo para ajudar os países em desenvolvimento, particularmente vulneráveis ​​na resposta às perdas e danos causados ​​pelas alterações climáticas.

O balanço global no âmbito do Acordo de Paris mostra que não estamos no bom caminho para limitar o aquecimento a 1,5 graus Celsius; há muito mais a fazer. Os Estados Unidos estão mostrando o caminho através de ações internas, como os investimentos feitos pela Lei de Redução da Inflação e da Lei Bipartidária de Infraestruturas, e continuaremos a trabalhar tanto a nível nacional como internacional para transformar em ação os compromissos climáticos significativos assumidos na COP28.

Os Estados Unidos firmaram outras ações com países em desenvolvimento durante a COP28?

Na COP28, os Estados Unidos anunciaram apoio aos pacotes nacionais em Gana e na República Democrática do Congo; aplaudiu a assinatura da Costa Rica e de Gana dos primeiros contratos para a compra de créditos de carbono com a Coligação LEAF, da qual os Estados Unidos são membro fundador; anunciou planos de apoio técnico aos esforços do estado brasileiro do Pará para a rastreabilidade total do gado até 2025; e reconheceu o progresso alcançado pelos 14 signatários do Roteiro dos Comerciantes na desvinculação da produção agrícola e na conversão de terras, incluindo importantes anúncios recentes da ADM e da Cargill.

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